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100 Borboletas no estômago

100 Borboletas no estômago

Sab | 26.12.20

Kika

Tânia Garcia

Desejei-te mesmo antes de existires.
Foste sempre tranquilidade, quando ainda eu própria estava a aprender a viver num mundo de gente grande.
Foi uma viagem a duas durante demasiado tempo e foste a minha âncora, mesmo quando não sabia navegar.
Aprendi, ri, chorei, caí e levantei na tua companhia mais fiel.
Éramos as pinypons, as invencíveis, o Rik e o Rok.
E depois entrou a tão famosa adolescência pela porta dentro.
E com ela trouxe um vendaval de finca pés, de discussões, de dramas, de chamadas à escola, de reuniões, de notas péssimas.
Houve momentos que me questionei enquanto mãe, que via os olhares de intolerância dos professores que não compactuavam com o método de ensino dentro das nossas quatro paredes.
Houve dúvidas, choros ao adormecer e ao acordar.
Senti-me qual gladiador entregue aos leões e aprendi que a comunicação escolar entre pais e professores que tanto nos tentam vender, simplesmente não existe, porque quando a luta é feroz, ficas sozinha na arena.
Só os bem comportados servem para estatística.
Mas como teimosa que sou não desisti de ti.
Foram noites em claro, foram centro de explicações onde sem a Maria José, a minha milagreira, não sei como tinha acabado.
Mas não te deixei para trás.
Aprendi a caminhar ao teu ritmo e a perceber em que casa moravam as manhas e desfiz os nós, um por um.
Hoje após tanta tempestade, vejo um raio de sol a espreitar pelo céu carregado de cinza.
O arco-íris espreita ao longe para fazer a entrada triunfante, mas ainda é demasiado cedo para içar a bandeira da paz.
Estamos em tréguas com o passado e caminhamos no presente com a determinação de fazer o melhor futuro possível para nele habitares feliz e realizada.
Hoje escrevo com orgulho a batalha que vencemos as duas.
Vejo como és enquanto menina e como será a mulher que espreita ao virar da esquina.
Só quero que sejas feliz na tua maneira destrambelhada de ser.
O mau feitio, esse, é hereditário.
Até amanhã.

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